Em Março, a nossa fundadora, Brígida Almeida foi a figura de destaque da revista Lookvison Portugal. É com enorme orgulho que vos deixamos aqui a entrevista.
35 anos de uma história de sucesso atraiu-nos à Peninsula de Setubal. As três lojas que compõem a Óptica Pita afirmaram-se na região, “pelo serviço primoroso e a assistência pós-venda”, diz-nos Brígida Almeida. Esta mulher setubalense ergueu, ao lado de Carlos Almeida,o negócio que envolve todo o núcleo familiar. Carlos já esta na retaguarda, mas a inquietude de Brígida ainda paira na empresa.
A Óptica Pita está “encaixada” nas pequenas ruas históricas de Setúbal. As portas automáticas da loja abrem caminho para um ambiente tranquilo, iluminada por duas entradas opostas. Para chegarmos à mulher que nos inspira a viagem é preciso apanhar o elevador e subir os três andares dedicados à empresa. A figura familiar de Brígida Almeida acerca-se de nós no seu passo firme, bem cuidada e com uma frescura fabulosa, nos seus 68 anos. Antes de iniciarmos anossa conversa amena, chama a filha, porque se sente mais segura ao lado da sua sucessora e porque parte da Óptica Pita já se move ao ritmo do trabalho dos dois filhos, Sónia e João. Para lá do discurso já preparado, de como atingiu umsucesso tão considerável na região, regressa ao passado, aos sacrifícios, à luta e principalmente às grandes conquistas. Em Brígida não existem “cicatrizes” de insatisfação. Pelo contrário! Os olhos brilham à luz daspalavras que retratam a vida em Moçambique, onde nasceu a primeira filha, à liderança dos grandes armazéns de pronto-a-vestir, o regresso forçado pela guerra em África e pela gravidez do seu segundo filho e na edificação de um pequeno império para si e para a sua família. O companheiro Carlos Almeida, ótico de profissão, apolou-se no seu caráter agitado para ser reconhecido, hoje, entre os melhores profissionais de ótica. Agora está nos “bastidores”. Brígida também irá estar, mas ainda sente nela o apelo pelo desafio que tem em mãos. Manter a saúde da Óptica Pita e acompanhar os seus filhos. Sónia encetae mpreendimentos científicos que dignificam a empresa e João está na frente de negociações com clientes e fomecedores, Brígida está por isso tranquila, a usufruir de um trabalho seguro, que conquistou Setúbal de forma arrebatadora. Distribui pelos que precisam parte do que ganhou e defende a sua região com garra. Não está, em absoluto, pronta para a retirada final. Descansa só nos momentos brandos e lê,lê muito!
O percurso histórico da ÓpticaPita e feito em modo ascendente e culmina nasua internacionalização.
Sim, de facto a integração da segunda geração e a preparação para o futuro levou-nos, a mim e ao meu marido, a pensar na reorganização da empresa. Preparamos tudo para certificarmos a Óptica Pita, tendo como referencial a norma ISO9001, o que aconteceu em 2006. Certificados e reconhecidos pela nossa boa organização, selecionaram-nos para integrar o Projeto Made4U, patrocinado pela7th Framework Program, um fundo europeu de apoio ainvestigação, com o objetivo de desenvolver óculos personalizados. A iniciativa intensa teve a duração de quatro anos e compôs-se por 13membros que incluiu universidades, fabricantes de armações, de tintas e lentes e duas óticas, uma em França e nós em Setúbal. Estes membros pertenciam a oito paíes europeus: Portugal, Espanha, Franca, Alemanha, Inglaterra, Eslovénia, Suiça e Bélgica. Eu fui responsável financeira do projeto, mas a Sónia é que esteve de corpo e alma.E qual foi o papel da Óptica Pita em tamanho empreendimento, Sónia?
Fizemos a ligação entre a ciência e o mundo empresarial. O projeto desenvolvia-se em laboratório e precisava de alguém com ligaçãoo ao “exterior”, mas também com capacidade para responder às solicitações do programa. Basicamente, o que fizemos foi testar o utilizador, com vista à criação de óculos 100 por cento personalizáveis, considerando o nariz, o enquadramento do rosto e os dados antropométricos. Ou seja, desde a visão até à própria armação. Utilizamos equipamentos de alto caráter técnico-cientifico que fizeram um scan ao rosto, apuraram os dados, que se registaram automaticamente no computador. Disponibilizaram-se as informações em rede e usaram-se para fabricar as lentes e as armações. Só da nossa parte,construiram-se 125 protótipos. Agora fomos convidados para integrar um novo projeto de investigação, mas ainda não posso desenvolver mais. Desta vez, além de sermos demonstradores do projeto, também faremos a divulgação do mesmo à imprensa e aos nossos colegas de atividade.De volta a Portugal, Brígida, quando se instalaram em Setúbal, em 1978, estávamos no período anterior ao momento de ouro do setor. Como foi viver estes anos de crescimento e depois entrar no atual momento de crise?
O início da nossa atividade não foi nada fácil. Eu e o meu marido não tinhamos qualquer apoio financeiro. Tinhamos sim, um grande entusiasmo e vontade de triunfar numa área que nos pareceu de futuro. Os primeiros anos foram de total dedicação. Por exemplo, “férias” era apenas um sonho de que ouviamos falar (risos). Mas deu certo, porque naquela primeira loja pequenina, costumavamos ter filas de clientes pela rua fora, à espera de serem atendidos por nós.Daqui aconteceu então o crescimento da loja e da empresa.
Tivemos que expandir e comprámos um edifício que estava a ser construído, mesmo em frente, já em 1989. O meu marido estava relutante, porém encorajei-o e atirei-me de cabeça. Logo em 1992, o novo espaço já era pequeno e acabamos por comprar uma loja na rua paralela e unir à anterior. Hoje mantemo-nos, porque construímos uma empresa sólida, muito dedicada aos clientes e com um serviço pós venda forte. Como diferenciação, criamos ainda uma vertente de ligação à industria, através do fomecimento de óculos de proteção para trabalho. Quanto ao crescimento pessoal, considero que ele foi fundamental, sobretudo para nos projetar estruturalmente e estarmos preparados para enfrentar a atual crise.Porquê associarem a vossa marca à MultiOpticas?
A ligação à MultiOpticas foi, como o diz o povo, “um bom casamento”. Isto é, nós aproveitamos a sua imagem nacional e intemational e a MultiOpticas aproveitou a nossa importância na região.E qual considera ser o segredo deste crescimento exponencial da Óptica Pita?
Como diz o poeta, “o sonho comanda avida”. Temos sonhado a trabalhar e podemos afirmar que asorte dá muito trabalho.Escolheram a região de Setúbal pela relação afetiva à região?
Sim, escolhemos Setúbal, porque crescemos, vivemos e sempre estivemos apaixonados por esta tão linda e, por vezes, tão desprezada cidade.O Carlos e a Brígida mantém assim uma relação profissionale pessoal. É um verdadeiro desafio para ambos?
O grande desafio só tem sido possível, porquetemos sabido utilizar dois enormes conceitos: tolerância e respeito. Assumimos sempre um excelente espírito de equipa, traduzido em fazer tudo para o sucesso do projeto. Nem sempre foi um mar de rosas, trabalhar e viver juntos 24 horas por dia e durante tantos anos. No entanto, temos sido uma grande equipa!Conseguiram passar o vosso entusiasmo pela ótica aos filhos.
O envolvimento dos nossos filhos, Sónia e João, aconteceu como consequência dos valores que Ihes transmitimos ao longo da vida. Adicionando à formação académica que Ihes proporcionamos, tanto a Sónia como o João tomaram consciência de que, se trabalhassem com o nosso entusiasmo, teriam agrande oportunidade de continuar o projeto com que sempre sonhamos. E acredito que este sentimento se alargou à restante esquipa da Óptica Pita. Assim, gostaria de realçar o valioso contributo de todos os nossos colaboradores ao Iongo destes 35 anos.Todos edificaram o nosso sonho!Como acha que sera a ótica do futuro?
Estou um bocado apreensiva. Se não houver uma mudança de mentalidades, não sei… Ainda não temos um regulamento na ótica. É o salva-se quem puder. Trata-se de um trabalho sério e mexe-se com a saúde das pessoas. Precisa de maior atenção por parte de todos os envolvidos.